terça-feira, 27 de março de 2007

Género/sexo

O universo trans coloca-nos esta questão de forma evidente (género não coincidente com sexo), ainda que de forma diversa, compatível com a diversidade dos sujeitos que percorrem estes trajectos. Insistem em referir que não se trata de uma opção, mas sim de algo que nasce com elas, no entanto vou verificando que tal poderá não ser bem assim e passo a exemplificar: grande parte dos sujeitos observados são provenientes do nordeste do Brasil, àrea onde as igrejas evengélicas estão fortemente implantadas, pelo que a maioria delas são evengélicas...o curioso acontece quando falam em "deus" (durante as entrevistas)...assumem o género masculino na construção das frases e isso porque consideram "pecado" o que fazem. Interessante. A contradição imanente aos discursos aplicados e às estratégias utilizadas. Perante "deus" assumem a sua masculinidade...o temor...que produz estratégias, ainda que incosncientes por vezes...tal como defendi no comentário realizado ao post anterior sobre os extremos na política.
A religião, a política, as filosofias, as ideologias, etc, como referentes funcionais e orientadores da produção de discursos e estratégias...normal...

domingo, 25 de março de 2007

Pensar a Politica









Muito se tem discorrido acerca do sur / ressurgimento de movimentos ideologicamente identificados com a extrema direita em Portugal. As ultimas noticias que correm remetem-se para uma espécie de frente a frente entre os movimentos de extrema esquerda ( alegadamente libertários ) e extrema direita ( alegadamente conservadores ) que teve como palco a faculade de letras da universidade de Lisboa.

Ao que parece foi constituída uma lista de candidatura para a associação de estudantes representada por elementos desta ala direita numa faculdade que a ala esquerda reclama , recorrendo a uma memória histórica que aparentemente lhes concede uma legitimidade assente personificação de um arauto de esquerda e não de direita.

Umas semanas antes em Santa Comba Dão as mesmas facções se recontraram torcendo por diferentes ideais no que respeita á eventual criação de um museu dedicado ao estadista que encabeçou o estado novo; António de Oliveira Salazar. Se de um lado se empunharam cravos vermelhos e se cantou “Grândola vila morena”, do outro se fizeram saudações romanas e se ouvio o hino nacional.


Pode dizer-se que estamos perante algo inédito na história portuguesa pos 25 de Abril. Nunca antes se sentio uma tão forte oposição face aos ideais edificados apartir dessa data. Gostaria, mais do que tecer comentários politicamente correctos acerca dos ditos cujos da extrema direita, questionar-me sobre a realidade subjacente pois acredito que as realidades devem de ser pensadas não só sobre o que está presente e visível mas igualmente no que subjaz aos fenómenos e isto tudo antes de colarmos de imediato autocolantes de vulgo nome “preconceito”, categoria do pensamento especialmente complicada para uma análise antropológica isenta.

Devemos antes de mais partir do princío de que todos os seres humnanos são dotados de pensamento critico e questionar-nos então sobre vários porquês, mais do que assentar o nosso pensamento e análise social de bens e valores que julgamos adquiridos tais como direitos hunanos que na realidade não passam de uma conquista ocidental de aplicação limitada e largamente teórica, ou operar com outros conceitos esteriótiopados como falta de consciência, educação, inteligencia e de bom senso da qual os referidos agentes seriam dotados para aderirem a semelhante ideologia.

É sabido que toda e qualquer ideologia se erige com base num sistema de pensamento onde determinados elementos se combinam com outros através de estruturas lógicas embora estes não tenham obrigatoriamente de assentar na realidade podendo ( como acontece na maioria se não em todas as ideologias humanas) assentar em mitificações da realidade, preconceitos e categorias organizadoras do pensamento que são mais do que representações dessa realidade e não a realidade ela própria.


Por isso mesmo acredito ser mais pertinente que em vez de nos convertermos ás fáceis e imediátas tecituras diabolizantes e ás tão politicamente correctas acusações a esses temiveis "monstros" nos debrucemos no que é realmente importante : a compreensão do porquê do seu seu ressurgimento, que passa ela própria pelo questionar de certos pontos tais como:

-- Porquê agora?
-- Quais as motivações?
-- Quais as realidades alternativas perseguidas
-- Quais as representações?
-- Quais os objectivos?
-- Quais os estimulos ambientais que despoletaram o despertar destes ideais submersos por toda uma ideologia do 25 de Abril de 74?
-- Será o mundo de hoje alimentado pelos mesmos paradigmas da revolução de 74? Quais os novos desafios que se lhe sobrepõem?
-- Porquê um aparecimento do mesmo tipo de fenómeno além fronteiras? Ou porquê o contágio deste alem fronteiras a Portugal?
-- Qual a legitimidade destas manifestações numa conjuntura poltica que se diz anti-censura e de pensamento livre?

sábado, 24 de março de 2007

O momento

Qual o momento certo para fazer uma pausa, quando utilizamos a observação participante? Existem alturas em que parece que não estamos a conseguir nada de realmente útil para os obectivos do nosso trabalho, o que fazer? Sair temporariamente? Será que pensamos não ser útil aquilo que mais tarde se revelará importante? Estou numa dessas fases. Provavelmente preciso sair para processar informação, digeri-la. Vamos ver.

sábado, 17 de março de 2007

A entrevista antropológica

Para mim as entrevistas não devem ser pagas, no entanto respeito quem sustenta outra opinião àcerca do assunto. Desde Agosto de 2006 que venho desenvolvendo este meu projecto e durante todo este tempo apenas consegui duas longas entrevistas. Será o preço a pagar...por não pagar?Provavelmente, pelo menos no que a este universo diz respeito. No meu entender o pagamento pelas informações, nomeadamente através da entrevista, aproxima-a da entrevista jornalística, em que a verdade mais profunda é supérflua e desnecessária. A entrevista antropológica deve resultar duma relação de confiança, e essa confiança não se estabelece de imediato. Só conseguiremos romper a camada protectora do self entrevistado, se nos tornarmos confiáveis. Sou pelas entrevistas não pagas.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Promises (2001)








Directed by
Carlos Bolado
B.Z. Goldberg


Release Date: 20 December 2001 (Netherlands) more

Genre: Documentary

Plot Summary: Several Jewish and Palestinian children are followed for three years and put in touch with each other...

Awards: Nominated for Oscar. Another 12 wins & 3 nominations more



Runtime: France:106 min
Country: USA
Language: English / Arabic / Hebrew
Color: Color
Aspect Ratio: 1.66 : 1 more
Sound Mix: Mono
Certification: Argentina:Atp / Denmark:7 / France:U / Spain:T / Sweden:7 / Peru:PT


Torrent

terça-feira, 13 de março de 2007

Objectivos

Na verdade, Sapiens, o que vou agora postar mais não é que um comentário aos teus dois anteriores posts, estendendo-se um pouco para além disso e é por esse motivo que mereceu um título. O nosso objectivo ao criar este blog, era o de exactamente dar a conhecer o que se fazia em termos de antropologia na actualidade, tal como indica a citação que usaste da Françoise Hérritier, ultrapassando um pouco aquilo a que parecem estar confinados os trabalhos antropológicos...às quatro paredes da academia e às leituras de poucos. A adesão de colegas...não sucedeu, contudo acho extremamente interessante esta forma de acesso àquilo que é feito na actualidade na nossa àrea científica. O teu tema é interessantíssimo, coloca a tal questão de a lei andar sempre um pouco afastada das dinâmicas sociais, para além de que é extremamente útil. O que se sabe sobre o assunto resume-se geralmente às bombas noticiosas, apelando à audiência através de shows de abominações...alguêm tem de cumprir a função, ainda que de forma criticável (por isso tornámos os nossos trabalhos públicos), de conseguir reproduzir um novo olhar sobre estas temáticas, procurando que a sociedade se torne efectivamente mais justa e tolerante. Olhares desinteressados das audiências e do dinheiro que algo produz. Um excelente tema o teu e muito actual, tão actual que acho que em Portugal as pessoas ainda não se aperceberam o quanto.

O estatuto da Antropologia na sociedade

"os nossos escritos circulam um pouco em circuito fechado. É , pois, necessário continuar a fazer este esforço de informação para atenuar tanto quanto possivel esta surdez selectiva de que acabo de falar e a aceder a um nivel de comunicação que nos permite ser ouvidos plenamente pelo poder público"

Françoise Hérritier in Masculino Feminino: O Pensamento da Diferença

Levitic.... sexualis abominations
















As ciências humanas sempre estiveram sujeitas ás ingratas acusações de falta de objectividade e de capacidade de provar por A + B a veracidade de certas teorias. Isto acontece porque muita da matéria de estudo das ciências sociais e humanas é deveras etéria ou seja, encontra-se ao nível do simbolismo, do pensamento , da valorização , hierarquização e discursos não materializados mas que acabam por se concretizar em acções eventos e manifestações económicas, sociais e politicas. Existem no entanto certas subtilezas lógicas que nos permitem inferir com consideravel grau probabilístico a origem, fidelidade e objectividade de certas correlações e comportamentos.

A homosexualidade e a sua defesa por parte dos individuis homosexuais segue a mesma lógica que a dos indivíduos heterosexuais, tal como tenho podido apurar ao longo da minha (ainda muito curta pesquisa) , os indivíduos heterosexuais naturalizam e tentam externalizar esta naturalização de si e da sua orientação a todos os outros indivíduos pois sempre a sentiram em si como natural. Esta externalização e assumpção maioritária de cabimento de si na caixa categórica da maioria confere-lhes assim um estatuto de normalidade e de correcção emocional e orientativa naturalizada.

Acontece que, não obstante a constante anormalidade apelidada por estes ás orientações homo ou bisexuais, verificamos que, também os homosexuais , bisexuais e transgeneros afirmam com a mesma vemencia a naturalidade dos seus sentimentos , identidades e orientações sexuais uma vez que desde sempre sentiram em si essas orientações como fortes legitimas e naturais embora nunca tenham usufruído da grande caixa categórica conferidora de segurança e normalidade estatistica.

Não só as afirmações quanto á origem e naturalidade da orientação sexual/ identidade de género me parecem absolutamente paralelas ás dos indivíduos heterosexuais, como também os sentimentos , criações, discursos, escritos e descritos pelos individuos homo , bi e trangeneros parecem seguir a mesma linha ilustrando o mesmo tipo de sentimentos e emoções que encontramos nas relações heterosexuais maioritárias.

Aproveito a deixa para apresentar, tal como o fez “a” morte da Bela Lugosis,o meu trabalho de estágio a decorrer de momento.

Coube-me por glória ou infortúnio do destino a difícil mas sem duvida recompensadora tarefa de trabalhar com uma minoria da sociedade que luta actualmente pela equivalência de direitos face ao grupo maioritário. Essa maioria são os LGBT que inclui todo um conjunto de indivíduos, desde os mais activistas até aos menos votados a associativismos que partilham entre si a orientação sexual e/ou identidade de género divergente da maioria. Eles são as Lésbicas, Gays, bisexuais e trangeneros. O meu trabalho consistirá em estudar a existência de famílias homosexuais e da homoparentalidade inseridas num contexto da diversidade familiar pos-moderna mas também na sequencia das constantes lutas e reivindicações estatutárias e de direitos, legais e civis de um sub-grupo que se estima na sombra constituir entre os 5 e os 10% dos indivíduos da sociedade.

sábado, 10 de março de 2007

O Antropólogo

Este post não tem teoria específica que o sustente, não tem pretensões a nada...a não ser a de realçar o papel que julgo que a antropologia social e cultural deve desempenhar na sociedade. Com efeito, todo o antropólogo cresce num determinado "sistema" de valores que irá projectar nos diversos fragmentos de realidade que vai observando e aqui reside um aspecto que julgo importante, aquando da escolha de um tema, de um objecto de trabalho. Para mim, esse objecto será tão mais aliciante, quanto mais me confrontar com realidades diversas da minha, querer ser antropólogo, pressupõe pois para mim, uma vontade de nos superarmos enquanto indivíduos e actores sociais. Só ao exercitar a superação dos seus próprios preconceitos, o antropólogo entenderá o seu papel activo na sociedade. Superar preconceitos, será pois uma forma de aproximação mantendo a diferença, promovendo a evolução.

terça-feira, 6 de março de 2007

Tipos de familias e desenvolvimento










THE DIVERSITY OF FAMILY TYPES

That there might be persistent family-type differences across the globe that might influence post-transition conditions is suggested by the linkages Emmanuel Todd postulates between family relations and value formation (Todd, 1985). Families he says, shape the worldview of their children, reproducing people who share the same beliefs and values. Each generation
absorbs parental values and bases it own fertility decisions and child rearing on these values.

As family type varies, so do these beliefs and values which, in turn, shape individuals' expectations about social, economic, and political relationships. Todd argues that there are eight basic family types, which can be grouped into three broad families.


Nuclear Families


Three of Todd's family types are nuclear

-- the absolute nuclear family of the Anglo Saxon world that socializes children to individualized values, according to which they must strive to succeed to be able to support their own independent family units;

-- the authoritarian Germanic nuclear family in which there is a transfer of an unbroken patrimony to one of the sons, and children are socialized to hierarchy, authority, and inequality;

-- and the egalitarian Latin nuclear family, which produces a continual tension between the individualism demanded by the nuclear family and the equality built into the rules of inheritance.



Community Families

In a second set of three types, Todd says, child-rearing is the respon-
sibility of a larger collection of kin. Community families are characterized
by equality between brothers and cohabitation of married sons and their
parents. They are differentiated into

those in which marriages are exogamous(Slavic, Chinese),

those in which marriage is endogamous, with frequent marriages among cousins (Arab), and

those within asymmetrical or caste-structured societies in which endogamous marriage is enforced within subcastes and marriage among cousins also is frequent (e.g. India).




Anomic and Polygynous Families


The two remaining types are more fluid in their structure and interpersonal relationships.

The anomic family of Southeast Asia is typified by inheritance rules that are egalitarian in theory but flexible in practice, cohabitation of married children with their parents is rejected in theory but accepted in practice, and consanguineous marriage is possible, often frequent.

The polygynous family unit of sub-Saharan Africa is characterized by absence of stable interpersonal relationships except between mother and children, and by a multiplicity of sexual partners, including close family members.


Both level of development and family type contribute to fertility and infant mortality differences, individually and in combination. Do fertility and infant mortality respond differently to rising levels of development in regions characterized by different traditional family types?

comparing the intercepts and coefficients of the regressions of the fertility and infant mortality rates on real GDP of countries with traditional community or anomic/polygynous family types with those for nuclear family regions.

With respect to fertility, community family regions have a significantly higher intercept but a slope that does not differ from that of the nuclear case: at any level of development, community-family fertility is greater than that of nuclear families, but the response to rising levels of development is the same.

In the case of anomic/polygynous families it is the response rate that differs: fertility declines much more slowly with rising levels of development in such regions than in regions where nuclear families prevail.

In the case of infant mortality, there are no differences in either level or slope between the nuclear and community cases, but again, the response rate of anomic/polygynous families to rising levels of development is significantly lower than in the two other cases.


"Family type does make a difference.

In particular:

(a) controlling for level of development, countries where the traditional family structure is endogamous or asymmetric community, anomic or polygynous have significantly higher fertility and infant mortality rates that countries with nuclear or exogamous community families;

(b) the response to rising levels of development is less where anomic or polygynous families are the traditional norm than in the community and nuclear cases. Nuclear-family regions
have the lowest rates and the most rapid response to rising levels of devel-
opment. Community-family regions have higher rates than nuclear family
regions at comparable levels of development, but respond similarly to
modernization. Anomic/polygynous-family regions combine higher rates
with slower responses."



" With respect to mortality, endogamy has important effects. Gibbons (1993), reporting on reviews of epidemiological studies across the world by the US Centers for Disease Control and Prevention, provides evidence that the offspring of first-cousin marriages are 1.4 times more likely to die before they reach adulthood than the children of other unions. Even in the US, she reports Mormon children whose parents are first cousins had a 22 percent chance of dying before 16 (including miscarriages and stillbirths), compared with a 13 percent risk for children of less closely related Mormon parents.

Since consanguineous marriages account for 20 to 50 percent of all unions in many regions of Asia and Africa, a higher intrinsic fertility will be required to offset higher mortality in those regions than in areas with other marriage patterns. This difference is unlikely to go away with modernization, unless changes in the role of women significantly change patterns of
endogamy and male domination, or the hypothesized convergence on the
nuclear family occurs with increasing levels of development. "

IN: Brian J. L. Berry (2000) Household Type and  the Demographic Transition in Population and Environment: A Journal of Interdisciplinary Studies  Volume 21, Number 3, January 2000
9 2000 Human Sciences Press, Inc.

O viajante e o não lugar antropológico

Um imigrante é de certa forma um viajante (Simmel), Portugal já foi um país de emigrantes, sendo que neste momento tal parece suceder novamente, no entanto o Portugal de 2007 difere muito do Portugal de há 15 anos atrás, é uma sociedade multi-racial, onde diferentes culturas se encontram, cruzando-se, transformando-se,etc...
Na comunidade que observo (travestis brasileiros que se dedicam à prostituição), quer pela sua constante mobilidade por entre países europeus, quer pela sua situação de clandestinidade, que abraça grande parte dos seu membros, os não lugares antropológicos (Marc Augé), sem referências históricas e relacionais, parecem ser uma constante: os aeroportos, as estações de comboio, de autocarros de longo curso ou então a outro nível, os centros comerciais que avidamente frequentam. De resto, o seu tempo é passado em casas que ocupam temporarimente e onde se dedicam à sua actividade. As permanências são tendencialmente curtas e o circuito inclui Portugal, Espanha, Suiça, Alemanha e itália, maioritariamente.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Educação: Dentro ou fora da Cultura




 










"My dream is to become a doctor. But dreams remain dreams. I am in class five and have to leave now. School is only free up to this year. I think my father will marry me off in the near future because I'll be finished with school and have little to do. This thought frightens me. I hope someone hears my cry and comes forward before my education is stopped."

Jasmine, 13, from Bangladesh

Dificil comunicação: sociedade cientifica VS sociedade civil



















Na sequencia dos meus esforços para encontrar novos contactos para a realização de entrevistas sobre a temática das novas familias homosexuais e homoparentais decidi (se calhar ingénuamente) deixar espalhados por vários sitios na Web frequentados por pessoas LGBT uma breve explanação do meu trabalho e claro, o convite para quem quisesse contribuir com o seu depoimento.

Um dia passado e a unica mensagem que me chega ao correio eletrónico foi a de desagrado e claro mau entendimento do pretendido.


Passo a transcrever


" Olá R.L. (?!...)

Vi o teu anúncio no Terravista.

Não tenho nada contra a homossexualidade - até porque sou bissexual, mulheres e homens atraem-me.

Mas, ter visto um anúncio destes irritou-me.

Um estudo (????) para ser uma "arma" científica (????) e política. Mas que raio de ciência é esta. Tu, a priori já tens as conclusões tiradas ?!...Ou não é assim ? Vias fazer um estudo para provar um pressuposto de partida - ese as hipóteses não se confirmarem ? o que fazes ? arranjas outras ?Que vergonha ! É por estas e por outras que muitas vezes os verdadeiros estudos são postos em causa.É só ! Queria apenas apelar ao seguimento de critérios rigorosos e científicos e de verdadeira objectividade na investigação.Isto só põe em causa o bom nome da ILGA.

ASS: X "



ao que respondi:



"Olá X

Tal como tu , também não tenho nada contra a homosexualidade - até porque sou heterosexual mas não heterosexista.

Sinceramente não compreendo porque te irritou o meu anuncio. Eu referi-me a "arma" cientifica no sentido de lutar contra o preconceito ainda preponderante na nossa sociedade. Se de facto acreditas que ele está superado deverias de reconsiderar...

Quanto á palavra cientifica , referi-me a ela por acreditar que não háoutra forma de explicar ás pessoas uma realidade normal que elas concebem como anormal e diabolizam sistemáticamente.. aliás é este um dos objectivos da ILGA.

Quanto ao facto da politca, se não consideras pertinente , eu sinceramente não consigo ver outra forma de negociar poderes e direitos dentro de uma sociedade..

Quanto á pertinencia do próprio estudo não se trata de andar a trataras pessoas como animais de laboratório, nada disso, mas sim deprocurar dar vóz a quem na sociedade por ser minoria e mais do que isso, ser minoria discriminada em muitas dimensões, não possui muitas vezes essa oportunidade.

Posso dizer-te que estou de consciencia plenamente tranquila no que respeita ás minhas intenções... posso dizer-te igualmente que não tenho quaisquer conclusões tiradas mas tenho uma crença e é ela que me leva a gostar de realizar o trabalho que estou a fazer.

Nisto tudo só me incomoda saber que afinal podem existir pessoas que suspeitam de tudo e de todos e colocam levianamente (quem sabe a sua) má fé no trabalho dos outros...

R.L"

sexta-feira, 2 de março de 2007

Estudo de caso sobre a comunidade travesti brasileira em Portugal

É um fenómeno que se insere na globalização, nomeadamente no aspecto de uma maior porosidade das fronteiras e de um aumento de fluxos de pessoas, ideias, imagens, etc (Giddens). É uma investigação que levanta igualmente outras questões, a imigração ilegal, a não coincidência de género e de sexo ou seja temáticas relacionadas com a liminaridade sexual, por outro lado a religiosidade, que se revela igualmente interessante, visto que grande parte delas provêm de famílias evangélicas, sendo que neste meio as práticas relacionadas com o Candumblé e Umbanda são uma constante.
É um fenómeno essencialmente urbano, ligado à prostituição que encontra nas maiores cidades portuguesas o seu locus preferencial.
Vou aqui contar alguns episódios que possam elucidar e de alguma forma retratar como é fazer um trabalho destes e as situações com que nos deparamos. Lógico que a intenção aqui não é expôr conclusões, não seria o local certo para o efeito.
Certo dia, estava eu em casa a trabalhar , um pouco antes do natal de 2006, quando recebo uma chamada telefónica....era Adriana em pânico, para ser sincero ao princípio nem percebi bem o que se passava, tal era o atropelo das palavras debitadas em catadupa. Um cliente havia falecido após o acto sexual, ou seja havia caido redondo no chão e Adriana pedia o meu auxílio, visto que era português, para falar com a polícia.
Levantam-se aqui algumas questões: a questão da clandestinidade que faz com que se evitem os contactos com a polícia e da minha parte, a resposta a dar que podia afectar o futuro do meu trabalho. No entanto e apesar de algum remorso, a minha resposta foi não, que não o podia fazer. A resposta de Adriana não podia ser mais digna, ela que com facilidade poderia ter dito que não podia contar mais com ela para a realização do trabalho, acabou, mais tarde por me dizer...que tinha que entender a posição das pessoas. Será pois a dignidade e o sentido de justiça apenas característico dos grupos dominantes??.
Tirem as vossas conclusões.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Interpretando o quotidiano á luz do habitus e da lei
















Quem viu o primeiro dos dois programas “prós e contras” realizado, penso que duas semanas antes do referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (vulgo aborto) constatou através de um inteligente comentário ao nível da mais requintada e irónica maiêutica socrática, a existência do real habitus de Bourdieu e do seu constante conflito com a lei e com a autoridade.

A desadequação clara da LEI humana face á pratica da vida dos homens ficou tão clara na irrefutável tautologia das palavras de um senhor que se sentou do lado do sim, que quanto a mim , se fechou de imediato o programa nem dez minutos haviam passado do seu inicio... e claro não houve sofisma que fizesse valer as restantes duas horas...

Onde quero eu chegar então. Passo a dar o exemplo de excelência do referido senhor do qual não me recordo o nome que defendia que a lei deve de estar de acordo com a moral e com a cultura dos indivíduos e não contra ela, sugerindo então que levantasse a mão todo aquele que na plateia, sabendo de casos de aborto efectuados pelas suas mães, irmãs, primas, tias, sobrinhas vizinhas ou amigas o foi denunciar á policia?

Fez-se silencio
Não se levantou uma única mão, a não ser quando alguém decide expressar-se num aplauso e é seguido avidamente por pelo menos metade da plateia.


Numa definição original e sistemática o habitus define-se como um conjunto de

"sistemas de posições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes enquanto princípio de geração e de estruturação de práticas e de representações que podem ser objetivamente 'reguladas' e 'regulares', sem que, por isso, sejam o produto da obediência a regras, objetivamente adaptadas a seu objetivo sem supor a visada consciente dos fins e o domínio expresso das operações necessárias para atingi-las e, por serem tudo isso, coletivamente orquestradas sem serem o produto da ação combinada de um maestro" (BOURDIEU apud MICELI, 1987: XL).

Segundo Maria Setton em “A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea” o Habitus surge como conceito capaz de conciliar a oposição aparente entre realidade exterior e as realidades individuais. Sendo capaz de fazer a dialéctica constante e recíproca entre o mundo objetivo e o mundo subjectivo das individualidades. Habitus é então estruturado (no social) e estruturante (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas e orientado para funções e acções do agir quotidiano.

Tendo em conta esta relação dialéctica constante entre o passado, o presente e o futuro, o habitus torna-se sem duvida num fio condutor para um futuro nem sempre previsto mas pelo menos desejado e que condensa em si os esforços dos indivíduos para o alcançar. Por isso mesmo as forças externas que se imponham contra este plano presente na mente dos indivíduos estão condenadas ao fracasso.

Vemos no entanto que esta lei básica do comportamento social humano parece ser muitas vezes ultrapassada pela lei mesmo nos estados democratas onde a democracia, enquanto “representativa” não está apta a fazer a ponte entre a real pratica e a concepção da lei.

O que tento dizer aplica-se igualmente a outros casos. Muitos dos casos polémicos existem apenas enquanto polémicos porque é a própria lei que os torna polémicos conduzindo-os a enclaves desnecessários.

Outro caso mediático e igualmente paradigmático de conflito entre a lei e a pratica social é o caso da criança dividida entre a família adoptiva que a criou desde os três meses de idade e os pais biológicos. Mais uma vez podemos detectar no mínimo duas falhas resultantes desta mesma problemática.

Segundo consta, o casal em questão tentava há anos adoptar uma criança sem resultados práticos uma vez que o sistema legal para a adopção tal como outras tantas coisas em Portugal pura e simplesmente não funciona... e , não funciona ao ponto de alguns casais desistirem da ideia de adoptar crianças pelos próprios mecanismos de auto defesa emocional e psicológica perante anos a fio de entrevistas e promessas que os sistemas sociais não cumprem. Mais grave é o facto de existirem milhares de crianças que continuam a viver em instituições de acolhimento porque o estado pura e simplesmente não consegue gerir recursos e mecanismos que realizam a ponte entre potenciais pais adoptivos e crianças institucionalizadas. Perante esta situação, e retornando ao anterior caso, a família que adoptou a criança , encontrou na precária situação da imigrante uma forma de satisfazer as três partes – satisfazer o seu desejo enquanto família de poder adoptar uma criança; satisfazer a mãe da criança do peso de não poder dar boas condições de vida á criança e , satisfazer a própria criança que daí em diante poderia começar a ter uma vida normal no seio de uma família ( aparentemente) funcional.

Acontece no entanto que a lei gera mais uma vez espaço parra duvidas onde não parecem existir duvidas em termos de habitus e pratica social. Acredito que se houvessem mecanismos de sondagem com custos mínimos, se a população portuguesa fosse questionada (antes de toda a lavagem mental mediática) acerca do sucedido, ou seja, com quem deveria de ficar a criança de quatro anos de idade a opinião da esmagadora maioria seria inequívoca.


Tal como a memoria histórica também os hábitos práticos e morais semi-cristalizados não podem ser apagados de um momento para o outro ou numa ou em duas gerações. O poder central apenas poderá moldar subtilmente as percepções dos indivíduos face aos factos históricos bem como ás práticas comuns cristalizadas nas culturas dos povos, são no entanto pequenos impulsos que afinam a direcção que os lideres querem apontar aos súbditos. Esta foi tão somente uma das maiores lições históricas do passado século, a de que o autoritarismo evidente causa rebelião, o autoritarismo disfarçado de liberdade causa mais passividade, conformismo e permite o controlo dos sobressaltos pelo simples facto de poder haver catarse perante eventuais injustiças como pela diminuição da legitimidade de actos violentos.

É assim devido a este espaço de discussão que existem polémicas e desentendimentos desnecessários que eu , acredito poderiam ser diminuídos se a distancia entre o sentimento cultural e moral dos povos não se encontrasse cada vez mais distanciado do poder politico e jurídico e internacional.

Paradoxal quando pensamos que os primeiros antropólogos foram precisamente homens de leis ver estes últimos cada vez mais distanciado da voz dos povos e das culturas e confinados a ordens elitistas onde vivem OUTRAS sociedades e as impõem a outros.

Na sequência da delinquência juvenil

Pais, José Machado 2000, Traços e Riscos de Vida, Ambar:Porto.

"O fenómeno da exclusão social dos jovens - incluindo todas as suas correlativas manifestações de desenquadramento social- tem adquirido uma grande relevância pública cuja ressonãncia principal é a ideia de que os jovens vivem situações crescentes de risco. Riscos múltiplos de vida que se associam às condições precárias de vida, novas formas de vivência e experimentação sexual, manifestações diversas de intolerância (racismo, violência), apelos consumistas geradores de pânico social (nomeadamente com o consumo crescente de drogas mais ou menos ilícitas), condutas e culturas rebeldes, lazeres marcados por excessos e transgressões, etc.
Contudo, a atenção dirigida às situações e condutas de risco tem arrastado uma concomitante desatenção relativamente aos traços de vida desses jovens. A nossa proposta de investigação é simples: partir dos traços de vida para compreender os seus eventuais riscos. A proposta - que é também uma aposta metodológica-vai pois, no sentido de clarificar as condições ou determinantes sociais de jovens vivendo em trajectórias de risco ou em contextos de exclusão ou desenquadramento social:
...veremos como é vivida a gravidez de jovens mães (traços redondos); abordaremos as socializações que envolvem o consumo de drogas (traços, laços e dependências); as modalidades de aculturação de jovens negros (traços negros); aspectos da cultura graffiti(traços falantes); percursos juvenis na noite do bairro alto (traços nocturnos); e as sociabilidades das raves (traços contínuos da diversão). Remataremos o estudo (traços cruzados e riscos de vida) sublinhando os trajectos psico-sociológicos das condutas juvenis mais associadas ao risco e questionando algumas intervenções políticas (que políticas a tracejar?)."
Uma sugestão.